terça-feira, 16 de abril de 2024

🎺 Ian Carr with Nucleus - "Belladonna" (1972)

Review: 🦋 Tom Penaguin - 'Tom Penaguin' (2024) 🦋

★★★★

O talentoso e ambicioso multi-instrumentista francês Tom Penaguin (guitarrista de Djiin e organista em Orgöne) acaba de surpreender todos os verdadeiros apóstolos do Prog Rock e do Jazz Fusion com o lançamento do seu belíssimo álbum de estreia – gravado de forma analógica no seu estúdio caseiro – pela mão do selo discográfico espanhol Á MARXE nos formatos CD e digital. Sonhado, arquitectado e maturado durante vários anos, este primeiro passo discográfico a solo de Tom Penaguin representa – com admiráveis maestria e ousadia – muito daquilo que mais me apraz encontrar na música contemporânea: uma indiscreta influência clássica aliada a um cunho pessoal que lhe confere um indelével traço original. Pincelada, aromatizada e norteada por um melodioso, serpenteante, enleante e sumptuoso Prog Rock de ensolarada e colorida magia Canterbury’esca, e um cerebral, exótico, estético e sensacional Jazz Fusion de elegante estilo vintage, a ambiental, bucólica, onírica e orquestral sonoridade deste fenomenal registo – polida e encerada por edénicas, cénicas e deslumbrantes composições – persegue a messiânica luz de carismáticas e incontáveis referências colhidas nos anos 70 como Soft Machine, YES, King Crimson, National Health, Hatfield and the North, Caravan, Egg, Mahavishnu Orchestra, Brand X, Focus, Camel, Soft Heap, Pierre Moerlen’s Gong e Popol Vuh, assim como inala de pulmões bem abertos os frescos e revitalizantes ares noruegueses soprados por bandas da actualidade como Needlepoint, Soft Ffog, Wobbler e Jordsjø. Na sagrada constituição desta sedutora, majestosa e inspiradora obra, que vive do principesco detalhe, da graciosa subtileza e de uma desarmante beleza, dialogam entre si uma virtuosa guitarra – discípula de John McLaughlin, Allan Holdsworth, Jan Akkerman e John Abercrombie – que se centrifuga em exuberantes, hipnóticos e apaixonantes riffs e expurga num vendaval de esvoaçantes, angulosos e enfeitiçantes solos, um baixo elástico de reverberação ondulante, pulsante e baloiçada, uma bateria deliciosamente jazzística que se desdobra entre secos rufos na tarola, o toque preciso e cintilante nos pratos flamejantes, e galopantes acrobacias a trote dos timbalões, e toda uma quimérica profusão de sublimes teclados – aureolados por um misticismo fabular que nos abrilhanta o olhar de pirotecnia estelar – que tanto se amainam em embriagantes, sonhadoras e transcendentes passagens de uma encantadora lisergia, como rodopiam a toda a velocidade numa profunda espiral de magnéticos, sidéricos e estonteantes bailados. Tom Penaguin edifica no nosso imaginário todo um esverdeado, refrescante e arborizado tapete campesino, estriado por marulhantes riachos de águas translúcidas, sobrevoados por suaves brisas e vigiados de perto por vastos céus banhados de um forte azul turquesa, que se espreguiça e desdobra na longínqua e vertiginosa direcção de um Sol calmoso, profético e lustroso. Este é um álbum extraordinariamente radiante, cativante, divinal e glorioso, de afago mental e beatitude imortal, que em nós causa todo um apego impossível de quebrar e uma imensa permeabilidade emocional. Um catártico bálsamo de lívida brancura que nos inunda e cega de devota fascinação, e reconforta nos agradáveis braços da plena e deífica jubilação. Quando o derradeiro tema se entrega ao silêncio e este sonho soberbamente musicado nos permite finalmente pestanejar, damos por nós mergulhados num imperturbável e anestésico estádio mesmérico de onde não mais desejamos regressar. Satisfaçam nele todo o vosso desejo de requinte, e testemunhem toda a inesgotável majestosidade de um dos álbuns mais refinados do ano.

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sexta-feira, 12 de abril de 2024

☀️ Causa Sui - 'Free Ride' (2007)

♨️ Warm Dust - "Warm Dust" (1972)

🌑 Moonstone - "Emerald" (live session)

🎁 John Kay // Steppenwolf (12/04/1944)

©️ PF Bentley

🎁 Herbie Hancock (12/04/1940)

Review: 🦂 White Dog - 'Double Dog Dare' (2024) 🦂

★★★★

Depois de em 2020 ter ficado de queixo completamente caído ao deparar-me com o brilhante e irretocável álbum de estreia dos texanos White Dog (aqui devidamente escalpelizado e, mais tarde, aqui naturalmente premiado como um dos melhores registos nascidos nesse mesmo ano), regresso agora com renovadas palavras elogiosas destinadas ao seu tão aguardado sucessor, denominado ‘Double Dare Dog’ e captado de forma inteiramente analógica, que acaba de sair à rua pela insuspeita mão do influente selo londrino Rise Above Records através dos formatos físicos LP e CD. Com uma formação transfigurada (a substituição de vocalista e o acréscimo de um teclista) mas mantendo a sua roupagem clássica, o agora sexteto, enraizado na grande cidade de Austin (capital do estado norte-americano do Texas), continua a trilhar a sua gloriosa jornada musical com a bússola apontada ao dourado território setentista. Numa agradável, relaxada, ensolarada e adorável viagem – debaixo de uma intensa e amarelecida luzência vintage – que atravessa as deslumbrantes paisagens rurais de um apimentado, ritmado, invertebrado e afrodisíaco Blues Rock de condimentado sabor Tex-Mex, um empolgante, tórrido, suado e dançante Southern Rock de vaidade sulista, e ainda de um musculoso, fogoso, lustroso e torneado Hard Rock sarapintado por vibrantes colorações de um caleidoscópico psicadelismo californiano, ‘Double Dare Dog’ passeia o ouvinte – de texanas calçadas, pernas cruzadas, chapéu de aba larga reclinado na cabeça e um palito mordiscado na boca – pelas verdejantes pastagens que se desdobram até onde a vista pode alcançar, ajardinando toda uma nostálgica época há muito enterrada pelas areias do tempo. Homenageando os autóctones ZZ Top e bebendo influências de outras bandas carismáticas como Lynyrd Skynyrd, The Allman Brothers Band, Creedence Clearwater Revival, The Marshall Tucker Band, James Gang, The Outlaws, Quicksilver Messenger Service e Grateful Dead, assim como direccionando os holofotes para outras mais obscuras como Highway (Minnesota, EUA), Lightning (Minneapolis, EUA) e os canadianos Aaron Space, a quente, swingada, atraente e atrevida sonoridade de White Dog é como que uma fresca brisa de aroma oceânico que perfuma e aviva o ar seco e soalheiro do deserto. De olhar enternecido, sorriso desabrochado e espírito embevecido, embalamos à apaixonante, idílica e contagiante boleia de duas guitarras siamesas que florescem harmoniosos, veneráveis e cheirosos acordes de onde serpenteiam requintados, estonteantes e rendilhados solos, um baixo gingão de bafo pulsante, magnetizante e palpável, um carismático teclado Hammond bailado a polposos, melódicos e sumptuosos mugidos, uma afável bateria de sensibilidade jazzística, galopada, sem esporas, a um ritmo leve, solto e descontraído, e uma voz polida, aveludada e felina. A bonita arte gráfica que confere rosto a esta viciante iguaria texana tem como seu autor o talentoso ilustrador local Taylor W. Rushing‘Double Dog Dare’ é um western soberbamente musicado. Um registo tremendamente irresistível, pensado e executado à minha imagem, que decerto não dará descanso aos demais concorrentes pela acesa luta ao título de melhor álbum do ano. Entrem, ousados, neste poeirento e barulhento saloon com forte odor a pólvora – de coldre desapertado, dedo indicador repousado no gatilho e debaixo de olhares desconfiados que se erguem acima dos ombros – e beberiquem este mélico bourbon. Cinco cintilantes estrelas para estes temidos pistoleiros de fama firmada e disseminada por todo o tapete arenoso do velho oeste. Depois de dois disparos certeiros no meu coração, já salivo pelo terceiro.

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segunda-feira, 8 de abril de 2024

❂ Screaming Trees - "Black Sun Morning" (1989)

Review: 🪐 Iron Blanket - 'Astral Wanderer' (2024) 🪐

★★★★

Da cidade australiana de Sydney chega-nos a incandescente lava vulcânica expelida pelo jovem e irreverente quinteto Iron Blanket, que acaba de lançar o seu impactante álbum de estreia denominado ‘Astral Wanderer’ e editado a duas mãos pela britânica Copper Feast Records e pela grega Sound Effect Records nos formatos digital e LP. Combinando as dominantes forças gravitacionais de um musculoso, enérgico, titânico e polposo Heavy Rock de luciféricos ecos Green Lung’escos, de um quente, arenoso, fogoso e efervescente Desert Rock de alta octanagem a fazer recordar os suecos Dozer, e ainda de um montanhoso, pantanoso, sombrio e impiedoso Psychedelic Doom de incensos morfínicos e um pesado galope Sleep’eano num vistoso, admirável e glorioso bailado, ‘Astral Wanderer’ é um álbum imponente – tomado por ácidas e negras lavaredas que cospem crepitantes faúlhas – capaz de abalar e naufragar o ouvinte num revolto mar de vulcânica euforia. Não dispensando misteriosas incursões nocturnas pelo lado mais intrigante, letárgico, ritualístico e intoxicante do mastodôntico Proto-Doom de tração setentista e uma imersiva pretura Black Sabbath’ica, este triunfante primeiro trabalho dos australianos Iron Blanket simboliza uma monolítica, granítica e demolidora avalanche sonora que nos profana a alma, anoitece o espírito e enfeitiça do primeiro ao derradeiro tema. Uma torrencial chuva de estrelas chamejantes que cruzam os céus enquanto que relampejantes fissuras golpeiam o solo espasmódico. Embarquem nesta selvática, bombástica e vertiginosa alucinação à empolgante boleia de duas guitarras endemoninhadas – fervidas em crocante, espinhoso e electrizante efeito Fuzz – que conduzem abrasivos, rugosos, majestosos e invasivos riffs de onde esvoaçam solos luzidios, escorregadios, salgados e fugidios, um hipnótico baixo de linhas palpáveis, obesas, coesas e intimidantes, uma bateria enérgica de ritmos explosivos, provocantes, fulgurantes e altivos, e de uma voz assanhada e diabrina – de tez ácida, melódica, magnética e gélida – que contrasta com a ardência infernal do instrumental. São 45 minutos capitaneados por um groove contagiante que ziguezagueia entre a potência e a indolência, a luminosidade e a obscuridade, a agitação e a prostração. ‘Astral Wanderer’ é um álbum verdadeiramente vultoso, assombroso e desconcertante que, decerto, não deixará ninguém indiferente.

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